Atualizações

Fernando Santos - Disco Umbanda Fernando Santos - "Disco-Umbanda" Apresentado durante o extinto programa de Carlos Imperial como "a macumba em ritmo de discoteque".

Ouça aqui.

Vinícius de Moraes e Baden Powell - Os Afro-SambasBaden Powell e Vinícius de Moraes - Os Afro-Sambas Dois clássicos da MPB num álbum memorável.

Ouça aqui.

Os TincoãsOs Tincoãs Informações e discografia do grupo baiano que usou do samba de roda e do candomblé em suas músicas.

Conheça.

sábado, 28 de maio de 2011

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Orishas y la Santería: Ancestralidade e uma primeira aproximação com Cuba



"Mi musica tiene sabor a melado de caña"
Muito lindo isso.

Orishas fizeram um relativo sucessinho aqui, com basicamente uma música que todo mundo conhece. E é justamente dela que eu vou falar hoje. rs FUEN FUEN FUUUUEEEENNNN

Meio chato mostrar uma coisa que todo mundo já sabe e já conhece, mas na obra dos Orishas, tirando o próprio nome, é o que mais se aproxima do Candomblé. Da Santería, no caso. Ao menos inicialmente, vai, não tenho TANTO contato com o que os caras produzem, mas tô começando a andar. E até então, essa é a mais pertinente para o tema.

Esse primeiro esforço é como o começo de uma construção de uma ponte que vai do Brasil à Cuba para trazer a Santería. E, desta forma, para que possamos estar mais familiarizados um com o outro e, sendo assim, ver mais semelhanças que a origem. E mais diferenças que o sotaque.



Além da citação no final a "Eleguá, (...)Ochún", existem referências explícitas o tempo todo à questão da ancestralidade. Este pensamento é algo que é fundamental no culto, e que tem, como algumas de suas ramificações, o conceito de egun e o culto de Egungun.

Traduzir "Egun" por "Espírito" é complicado, porque os conceitos não se comunicam tanto quanto se imagina. Mas, inicialmente e com uma margem de erro bem considerável, digamos que Egun seja o espírito das pessoas mortas. E que o culto de Egungun evoque, dentro desses eguns, os antepassados.

O culto de Egungun é feito num espaço separado das casas de Candomblé. No entanto, faz parte de um dos cultos que o Candomblé englobou quando foi criado no Brasil.

O QUE? CANDOMBLÉ FOI CRIADO NO BRASIL?

Sim. O formato tal qual existe é Brasileiro, embora os mitos sejam africanos. Por conta da diáspora africana, habitantes de povoados diversos, com deuses diversos, estabeleceram-se no país. Isto deu uma enorme diversidade à religião. E, com isso, existe um grande número de orixás dentro do Candomblé. Não todos, muitos ficaram pela África, muitos não existem mais. Muitos cultos foram extintos mesmo dentro do Brasil. No entanto, alguns fundamentos e o fato de serem todos louvados pelo mesmo xirê vêm, definitivamente, de ancestrais mais próximos. De ancestrais brasileiros.

Por conta disso, eu refuto a idéia de que o Candomblé é de uma ancestralidade "dinossáurica", que sempre foi assim e que sempre será. Não é bem por aí. Ou melhor: É também por aí, mas tem outros ipsilones no meio disso: Há muito de contemporâneo. Há muitas leituras que, se não são recentes, são do século passado, de dois séculos atrás.

Muita coisa foi adquirida no território brasileiro. De cantigas que possivelmente foram criadas aqui em Yorubá, até a utilização de plantas e sementes que, até então, só existiam nas Américas. Como o milho, por exemplo. Milho esse que está nas comidas de Oxóssi, e na pipoca de Obaluayê.

Os mitos e cultos são africanos. A leitura brasileira e a conjunção desses mitos e cultos num mesmo espaço geraram o Candomblé. Pela necessidade, pela possibilidade de união e conjunção de forças, frente a toda sorte de repressão e crueldade que era o contexto em que viviam os africanos no Brasil.

Os mesmos mitos e cultos, no entanto, também foram lidos em outros lugares. Também foram estruturados de outra forma, e Cuba está aí. Linda e cheia de axé. Através da música e da arte existe, então, uma possibilidade de contato entre esses axés. De diálogo.

E, com muita humildade na trouxa, é um caminho que a gente pode tentar seguir, e que vai nos levar a lugares maravilhosos.

Segue a música:
http://www.4shared.com/audio/ji67D9wo/07_Represent.html

Letra:
http://letras.terra.com.br/orishas/29595/

Essa música vem do álbum "A lo Cubano".
http://www.4shared.com/file/lh6nwd20/Orishas_-_A_Lo_Cubano.htm
Artista: ORISHAS
Ano: 2001
Procedência: Nacional
Label: Universal Music
ISSN: 601215957129


Motumbá
Helena

P.S.: Agora que eu vi que tem um "Canto ára Eleguá y Chango" que no meu primeiro download não tinha... ¬¬ Desconsiderem, então, a parte de "mais pertinente", até porque ainda não ouvi a música e não sei se de fato é.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

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As Ayabás - Download da música



A postagem anterior não tinha um link para o download da música porque não achei uma versão em estúdio. No entanto, fiz uma captura do audio do video e ficou bem boa. Segue o link para download:
http://www.4shared.com/audio/0abFWAaJ/Doces_Brbaros___As_Ayabs__76_.html

Numa versão só com Bethânia, retirada do álbum "Pássaro Proibido"(1976):
http://www.4shared.com/audio/airEAoGD/As_Ayabas.html

Numa versão cortada só com a parte de Oyá, muito bonita. De Bethânia e participação de Gal Costa e Alcione, do álbum:
http://www.4shared.com/audio/wNm3dz2h/Umbanda_-_Ians__Maria_Bethania.html


Pronto. Muito mais do mesmo, que é bom e faz crescer. rss

Motumbá
Helena

sexta-feira, 20 de maio de 2011

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Doces Bárbaros – “As Ayabás” : Eu agora vou dançar para todas as moças!



Porque não bato nem toco nada. Rsss ;)

“Ayabá”, segundo quem me ensinou, é um nome utilizado para fazer referência e prestar reverência aos orixás femininos. São nossas rainhas. Segue o vídeo, que eu quero falar umas coisinhas. Mas não antes que se veja. Que as minhas palavras cheguem depois da percepção do vídeo.



Então...

Me deixem ser um pouco babaca um momento: Como faz pra roubar essa saia (e esse abdômen) da Gal?

... Pronto, acabei. Obrigada. Continuando.

Sendo ayabá referente aos orixás femininos, faltam então Nanã e Yemanjá. Ao menos dentre os orixás cultuados no Brasil. Nos comentários do vídeo existe uma teoria de que Nanã e Yemanjá realmente não fazem parte desse grupo, que existe algum fundamento etimológico na palavra Ayabá para que somente Oyá, Obá, Ewá e Oxum façam parte. Vale a pena entrar no vídeo pelo youtube também, para se inteirar melhor. Dentro da minha ignorância, eu não sei bater o martelo numa explicação que dê conta e peço desculpas humildemente.

Mas não sei até que ponto isso essa explicação é necessária para o post. Porque o vídeo está aí, e ele e a musicalidade falam por si.

Esse é um argumento meio falho, porque se for assim, não há a necessidade de escrever nunca nada a respeito de coisa alguma. E honestamente, não sei até que ponto esta afirmação não prossegue. No entanto existem as palavras, que vêm de todo o canto quando se vê um trabalho como esse. E o que se pode fazer é falar, e compartilhar palavras, ainda que não seja necessário. E é o que eu vou fazer a seguir.

Esse vídeo é retirado do filme “Doces Bárbaros”, de Tom Job Azulay. Trata-se de um documentário sobre o processo do show destes quatro artistas juntos num grupo e que, de súbito, ganha alguma dramaticidade pela prisão de Gilberto Gil e do baterista da banda por porte de drogas. É muito interessante, e talvez volte a ser postado como resenha do filme.

As músicas selecionadas para estes shows são na maioria de autoria de Gil e Caetano, e trazem uma relação direta com os ritmos populares brasileiros – chamados de regionais, termo que eu não sou lá muito chegada¹. Há nesse esforço uma tentativa de usar ritmos fortes, consolidados e extremamente marginalizados pelo circuito da cultura nacional, como os ritmos caipiras e os de origem afro. Neste sentido, temos na faixa “As Ayabás” um exemplo marcante: É toda referente ao Candomblé. No som, na letra e em todo o processo.

Oyá, a bailarina, a borboleta, o próprio vento, anunciada por sua filha Bethania e cantada por Gal Costa, “quebra seus pratos” e dá cadência às que vêm a seguir. Abre corajosa, de peito aberto. E passa a bola para a destemida amazona Obá, trazida por Caetano Veloso, com seus feitos heróicos e sua triste orelha cortada. Linda à sua maneira, simples, com uma inevitável potência, nos leva de pé sobre o seu cavalo para a moradia da solitária Ewá. Aquela que vive distante de todos, silenciosa, dona de tudo que é inexplorado. E é revelada suavemente pelo Xangô de Gilberto Gil, este sedutor que canta a menina enquanto se encanta pelos seus modos. E então, todos cantam para mãe Oxum, rainha suprema na Bahia, mãezinha doce, acolhedora, temperamental. Dona das riquezas, da fertilidade, e com uma ligação direta com o culto das Iyá-mi.

Sobre as Iyá-mi, meus caros... Tanto melhor que não saibam muito, se não quiserem se comprometer com a religião. É um tipo de culto muito difícil, muito denso e de muito fundamento. O que eu posso dizer superficialmente é que é a força feminina do culto de orixá. O pássaro proibido. A feitiçaria e o domínio de tudo quanto é obscuro, oculto. É o controle do sangue das regras das mulheres. É o material corpóreo, a vertigem. É vida e morte ao mesmo tempo.

Ao trazer quatro mulheres desse culto, pode-se pensar que se está evocando tudo o que é ligado às Iyá-mi. Pensar em evocar esse domínio do feminino, este tipo de pensamento numa época como a da ditadura militar, por exemplo. Existe alguma pertinência nisso.

E principalmente, ao pensar que a religião foi criada e desenvolvida no país pela mãos de mulheres, cantar para as moças, além de um tributo a essas mulheres, avisa também da sua potência. Ao fazer sentir cada um desses axés femininos, os Doces Bárbaros batem cabeça para o princípio do penetrável e vão buscar uma nova ordem cultural, musical, social e política.

Motumbá
Helena

1: Porque ao pensar que estes são ritmos podem ser caracterizados como regionais, pressupõe-se que exista uma outra categoria de ritmo que não seja regional, que seja “global”. E, sendo global, fala a todos, enquanto o outro só fala a uma minoria. Leva a um pensamento de que o global é um tipo de saber construído mundialmente, comprovável, científico, enquanto regional é necessariamente primitivo, parado no tempo e é um tipo de manutenção de práticas inúteis e desprovidas de qualquer tipo de raciocínio. E não é por aí. O global tem as suas origens, que coincidem com seu espaço de desenvolvimento. Todo global é local porque parte de algum lugar. O que torna mais divulgado e mais conhecido – e nem por isso compartilhado – é a política, a academia, a economia, e não o saber em si.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

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Mariene de Castro: Para bombar o “repeat”


Mariene não é nenhuma novata. No entanto, para mim, é uma descoberta quase recente. E por quase recente, leia-se meio do ano passado.

Buscando uma música específica da Maria Bethania no 4shared, achei por acidente uma com o nome de “Prece de Pescador”. Não constava no repertório de Bethânia, mas baixei mesmo assim. Poderia ser, não? Alguma versão, algum poema durante um show... Vai saber. Baixei e dei play. E era isso:

(P.S.: Gatíssima, né? )

(P.S.2: A versão em estúdio tem um final com um canto lindo. Vale a pena ouvir)

Não foi uma surpresa saber que não era da Bethânia. A minha surpresa, no entanto, foi aquela voz, aquela música maravilhosa. No player de música vi o nome da cantora, não era o mesmo que constava no arquivo. O nome era de Mariene de Castro. Fui até o 4shared e outras músicas fantásticas apareceram.

E então fui pesquisar no Google. Mariene já é conhecida na França, tem algum tempo de estrada. E ta aí, na batalha. Lançou CD, ta lançando DVD. Seguem os links para comprar os dois. To bem de olho nesse DVD, inclusive, tai um show que deve ser bom e que eu quero ir ver. Aliás, Mariene, tu bem que podia fazer um show aqui no Rio, hein? (A doida achando que a Mariene ta lendo, e tal... rss )

CD:

http://compare.buscape.com.br/procura?id=2921&kw=mariene+castro

Loja mais barata:

http://www.submarino.com.br/produto/2/23058326/?WT.mc_id=Buscape&WT.mc_ev=Click&coup_num=17-BP029-00001-0160481362

DVD:

http://compare.buscape.com.br/procura?id=2922&kw=mariene+castro

Loja mais barata:

http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/3412957/santo-de-casa-dvd/?ID=C925CB1D7DB0512131A040052&PAC_ID=25371

Não sei se vocês acharam ela isso tudo. Eu achei. Juro. Não só pelo fato de ser uma excelente cantora, mas porque tem um algo a mais. A voz dela tem um mistério. E a musicalidade é de uma potência incrível. Tem as suas bases no samba de roda da Bahia e nas músicas de casa de axé, e com isso, traz um conhecimento nessas áreas pautado na vivência. Um conhecimento que é incorporado, curtido, potencializado, e emana a cada segundo de música. Um conhecimento que é quase como mel, e que tem dentre as suas características, o poder de produzir um encantamento sem limite. E... Digam, não é ela a própria Oxum?

Link para votarem no prêmio Multishow. Se acharem que vale, coloquem o nome Mariene de Castro nas suas opções.

http://multishow.globo.com/Premio-Multishow-2011/Vote/

Twitter dela: http://twitter.com/castromariene

Página do Facebook pra curtir: http://www.facebook.com/#!/MarieneDeCastro

Um blog a respeito dela: http://santodecasaemilagreiro.blogspot.com/

Motumbá

Helena

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Tincoãs


Procurava eu um filme antigo para download: Pastores da Noite – Otália da Bahia. E, no meio do caminho havia essa música.
E os Tincoãs aconteceram na minha vida. Nossa, que drama pra falar! Rss Mas é isso, a partir desta música, a vontade foi de conhecer todas. Esse tipo de samba é muito gostoso de ouvir, de dançar. E na discografia dos Tincoãs, há muitos nesse estilo. Mas há ainda mais: Houve um momento de cantos sacros católicos, algumas inspirações nas cantigas de terreiro e de músicas do cancioneiro popular. Tudo junto, numa expressão
Este grupo teve o seu primeiro álbum gravado na década de 70, mais precisamente em 73. Durante a sua história, sofreu baixas com a morte de integrantes ao longo do tempo. O único que ainda está vivo é Mateus Aleluia, que ainda toca em Salvador. O último lugar que fiquei sabendo era o “Colonial 17”, e isso já faz tempo. Infelizmente, desde então não soube de mais nada. Quando souber, aviso. E eventualmente ele faz participações em músicas de outros cantores. Segue a apresentação dele com Margareth de Menezes.


Álbum – Os Tincoãs (1973):
Faixas:
01- Deixa a gira girá (Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)
02- Iansã, mãe virgem (Mateus e Dadinho)
03- Sabiá roxa (Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)
04- Ogundê (Adap. Mateus e Dadinho)
05- Na beira do mar (Mateus, Dadinho)
06- Raposa e guará (Adap. Mateus e Dadinho)
07- Saudações aos orixás (Adap. Mateus e Dadinho)
08- Canto pra Iemanjá (Mateus e Dadinho)
09- Capela d'Ajuda (Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)
10- Obaluaê (Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)
11- A força da Jurema (Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)
12- Embola, embola (Adap. Mateus e Dadinho)

Álbum – O Africanto dos Tincoãs (1975):
Faixas:
01- Promessa Ao Gantois
02- Dora
03- Salmo
04- Homem Nagô
05- Canto E Danço Pra Curar
06- Sereia
07- Jó
08- Oxóssi Te Chama
09- Anita
10- Ogum Pai


Álbum – Tincoãs (1977):
Faixas:
1- Atabaque chora
2- Lamento as águas
3- Canto de dor
4- Chão da verdade
5- Romaria
6- Deixa a baiana sambar
7- Canto do Boiadeiro
8- Enterro da Iyalorixa
9- Chapéuzinho vermelho
10- Arrasta a cadeira
11- Cordeiro de Nana
12- Acará


Quarto CD: Dadinho e Mateus (1986):
Faixas:
01- Luanda Ê
02- Angola Vamos Cantar
03- África Blue
04- Quem Vem Lá
05- Flor Do Campo
06- Vovó Clementina
07- Rio Qg Do Samba
08- Muxima
09- Cachoeira (Bahia Lisboa)
10- Namíbia
11- Sou Eu Bahia
12- Óia Lá Muié


Canções avulsas:
Banzo (Trilha da novela "Escrava Isaura"):
http://www.4shared.com/file/39044133/83e9999c/05_-_Os_Tincos_-_Banzo.html?dirPwdVerified=c8ef1512

Marialva ("Trilha do filme Pastores da Noite - Otália da Bahia"):
http://www.4shared.com/audio/5qXVlDnk/Os_Pastores_da_Noite__Otlia_da.html


Achando mais, corro e posto.
Motumbá
Helena

segunda-feira, 16 de maio de 2011

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"Os Afro-Sambas": Encontro e Entrega

"(...)E não digo na vaidade de ser letrista dos mesmos (sambas); digo-o em consideração à sua extraordinária qualidade artística, à misteriosa trama que os envolve: um tal encantamento em alguns que não há como sucumbir à sua sedução, partir em direção ao seu patético apelo."

Estas são algumas palavras das muitas que Vinícius usou na contra capa deste disco. O texto é maravilhoso, e fiz um post só com a transcrição dele feita a partir da imagem dessa contra capa, que achei no blog "Pirata do Rock".

O texto é parte integrante do álbum. Nele, Vinícius conta do processo do trabalho, de como tudo se deu. E a palavra que ressalto nesse primeiro momento é ENCONTRO. Encontro de duas pessoas extremamente diferentes, o tímido e jovem Baden, o boêmio e já não tão jovem Vinícius. E dos dois com uma imensa lacuna que era o Candomblé.

O processo de trabalho e de pesquisa foi intenso. Desdobrou-se e inclusive antecipou o próprio álbum, como na faixa "Berimbau", por exemplo, que é anterior ao álbum. Nos três primeiros meses, segundo o próprio Vinícius, os dois não queriam sequer sair de casa. O que era uma lacuna passou a ser uma garganta em que os dois pularam. E surge uma segunda palavra para o trabalho: ENTREGA.



De alguma forma, ENCONTRO e ENTREGA vão se desdobrando a cada toque do run. E geram descobrimento, redescobrimento, deflagração, mergulho. E uma perícia no trato das questões técnicas, um respeito a cada ewó¹. Com um entendimento de que a materialidade sonora,não só faria referência a um tema específico - no caso, um orixá - mas também era, em cada nota, parte da construção de conceito, de discurso e de mais materialidade. As três coisas juntas: Era axé.

Segue a imagem da contra capa com o texto de Vinícius:



Vinícius nesse momento é crítico do próprio trabalho. E antecipa, em 1966, uma tendência da arte contemporânea. Além disso, traz para o processo do seu trabalho musical a isenção do ambiente empostado de gravação. Traz pessoas alheias ao mercado da música, como pessoas encontradas pela cidade, e mesmo amigos, para participar da gravação. Pelo axé que trazem consigo para o processo de gravação. Por isso ele diz que "foram escolhidos a dedo", na contra capa.

Ele mesmo, o poetinha, o popular, o vulgar, o das massas. Ele mesmo, Oba Vinícius. Que se disse o branco mais preto do Brasil, e era da linha direta de Xangô. E saravá!




Sem mais delongas.

DOWNLOAD

Tipo de arquivo: RAR
Tamanho: 56,2MB
Disco Completo
http://www.4shared.com/file/GDuqPBNX/1966_-_Os_Afro_Sambas__Forma_.html


Faixas:
  1. Canto de Ossanha - 03:23
  2. Canto de Xangô - 06:28
  3. Bocoché - 02:34
  4. Canto de Iemanjá - 04:47
  5. Tempo de amor - 04:28
  6. Canto do Caboclo Pedra-Preta - 03:39
  7. Tristeza e solidão - 04:35
  8. Lamento de Exu - 02:16




Informações sobre o álbum:
Artistas: Vinícius de Moraes e Baden Powell
Nome: Os Afro-Sambas
Ano de Lançamento: 1966
Gravadora: Forma



Ficha técnica:
Produção e direção artística:
Roberto Quartin e Wadi Gebara
Técnico de gravação: Ademar Rocha
Contracapa: Vinicius de Moraes
Fotos: Pedro de Moraes
Capa: Goebel Weyne
Arranjos e regência: Maestro Guerra Peixe
Vocais: Vinicius de Moraes, Quarteto em Cy e Coro Misto
Sax tenor: Pedro Luiz de Assis
Sax barítono: Aurino Ferreira
Flauta: Nicolino Cópia
Violão: Baden Powell
Contrabaixo: Jorge Marinho
Bateria: Reisinho
Atabaque: Alfredo Bessa
Atabaque pequeno: Nelson Luiz
Bongô: Alexandre Silva Martins
Pandeiro: Gilson de Freitas
Agogô: Mineirinho
Afoxé: Adyr Jose Raimundo

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Contra Capa do disco "Os Afro-Sambas", de Baden Powell e Vinícius de Moraes (autor do texto)


Transcrição da contra capa dos Afro Sambas.

"Quando há quatro anos atrás, Baden Powell e eu começamos a compor pra valer (ficamos praticamente sem sair durante três meses. "Samba em Prelúdio", "Só por amor", "Bom dia, Amigo", "Labareda" e "O Astronauta" são dessa safra), uma das coisas que mais o fascinava era ouvir um disco que meu amigo Carlos Coquejo me trouxera da Bahia, uma gravação ao vivo de sambas de roda e cultos de candomblé com várias exibições de berimbau em suas diversas modalidades rítmicas. Nesse meio tempo, Baden deu um pulo a Salvador, onde teve a oportunidade de ver e ouvir candomblé e conviver com gente "por dentro" do assunto. A Bahia fez-lhe impressão enorme. Foi quando saiu nosso samba "Berimbau", que só por ser demais conhecido não consta desta série, embora a ela pertença, e o "Samba da Benção", de balanço nitidamente baiano.

Mas mesmo antes de "Berimbau", já Baden me catalisara para compor o "Canto do Caboclo Pedra Preta" aqui representado. O samba foi feito na hora, como se diz - a música e a letra da segunda parte buscando dar sentido ao canto original do "caboclo" - "Olô, pandeiro, olô viola", assim mesmo, com a vogal e no grave. Pois quando o "caboclo" Pedra Preta nos dizia que o "pandeiro não quer que eu sambe aqui, viola não quer que eu vá embora", parecia nos querer ele dar as coordenadas desse eterno conflito do amor e do sexo, cujo bandarilheiro e o ciúme em que o elemento "macho" (o pandeiro) repudia vivamente a entrada em cena do "caboclo" Pedra Preta (o "outro"), mas já aqui com a conotação também da divindade, de Pai-de-Santo, capaz de arrastar o elemento fêmea (a viola) para o mundo subterrâneo da magia negra e do sexo místico. Mas Pedra Preta não os concilia a não fugirem ao próprio destino - pandeiro tem que "pandeirar", viola tem que "violar". E quando na hora mágica do "caboclo", o galo canta fora de hora, o pandeiro parte, perdida que está para ele a partida.

A viola se integrará na missa negra e, doravante, também ela será sacerdotisa do culto. Esta é uma das interpretações que, uma vez terminado, o samba nos provocou. Mas a medida que ele se impunha pelo mistério do seu contexto, outros foram aparecendo. Pedra Preta seria, ao mesmo tempo, o elemento perturbador do eterno casal em conflito, cujo conflito é a essência mesma da vida em sua dinâmica. Só sei que me deixei completamente envolver pela sábia magia do candomblé baiano e durante meses vivemos em contato com o seu grave e obscuro mundo. Data de então, também, o "Canto de Yemanjá" em que, parece, Baden atingiu uma beleza poucas vezes alcançada. O canto inicial, com que a rainha do mar anuncia a sua presença e através da qual cativa e atrai os homens para a boda sem sexo (pois Iemanjá, neta de Oxum, sendo sereira tem corpo de peixe dos quadris para baixo) possui um tal mistério que até hoje não posso ouví-lo sem me perturbar fundamente. Dulce Nunes interpretou-o a perfeição, com uma voz abstrata, como que vinda de fora do além, do mágico mundo marítimo de Iemanjá.

Essas antenas que Baden tem ligadas para a Bahia e, em última instância para a África, permitiram-lhe realizar um novo sincretismo: carioquizar dentro do espírito do samba moderno, o candomblé afro brasileiro dando-lhe ao mesmo tempo uma dimensão mais universal. Tirante algumas experiências características - como fez, por exemplo, meu querido e saudoso amigo Jayme Ovalle com os "Três Pontos de Santo" - nunca os temas negros de candomblé tinham sido tratados com tanta beleza, profundidade e riqueza rítmica como por exemplo esse "duende da floresta afro-brasileira de sons" como eu disse de Baden Powell numa frase feliz. É esta, sem dúvida, a nova música brasileira e a última resposta que da o Brasil - esmagadora - à mediocridade musical em que se atola o mundo. E não digo na vaidade de ser letrista dos mesmos; digo-o em consideração a sua extraordinária qualidade artística, à misteriosa trama que os envolve: um tal encantamento em alguns que não há como sucumbir à sua sedução, partir em direção ao seu patético apelo. Notem também a estrutura rítmica puramente candomblé do "Canto de Xangô", em que Xangô agodô, o orixá velho, ao mesmo tempo que canta parece advertir Xangô jovem sobre a necessidade de amar sem medo, pois o jovem, após o primeiro fracasso amoroso, começa a adquirir uma certa reserva com relação ao amor. Em "Bocochê" (Segredo), volta ao tema de Iemanjá, já aqui tratado ritmicamente à maneira do Candomblé. No "Canto de Ossanha", Baden, ao meu ver, atingiu o máximo de profundidade em sua carreira de compositor. É um samba "advertente" e muito revolucionário em seu contexto. Um samba positivo, que não se recusa a enfrentar os problemas do amor e da vida. Em "Tempo de Amor", que é de todos o que menos se relaciona com o ritmo e a temática do candomblé, a estrutura do samba e sem embargo, autênticamente negra - o que justifica sua inclusão neste LP.

Quanto Roberto Quartin nos procurou, interessado em gravar esta série, combinamos com o jovem e talentoso produtor que o disco seria feito com um máximo de liberdade criadora e um mínimo de interesse comercial. Não nos interessava fazer um disco "bem feito" do ponto de vista artesanal, mas sim espontâneo, buscando uma transmissão simples do queriam nossos sambas dizer. Gravaríamos, inclusive, faixas mais longas do que gostam os homens de rádio e, conseqüentemente, a maior parte dos nossos intérpretes. E embora não sejamos cantores no sentido profissional da palavra, preferimos gravá-las nós mesmos a entregá-las a cantores e cantoras que realmente distorcem a melodia e o ritmo das canções em benefício de seu modo comercial de cantar ou de suas deformações profissionais adquiridas no sucesso efêmero junto a um público menos exigente. Assim estamos certos de que pelo menos gravamos uma matriz simples e correta, sem modismos nem sofisticações. E não foi outra razão pela qual escolhemos uma equipe onde - apesar de haver um conjunto vocal profissional da qualidade do "Quarteto em Cy" e uma cantora que se vai firmando cada vez mais como Dulce Nunes - (ouçam o "Lamento de Exu") a obediência a esse princípio foi absoluta. Nem as Baianinhas nem Dulce são "botadoras de banca" e cooperaram com toda a dedicação na feitura deste LP dentro do espírito que desejávamos Baden, Roberto Quartin e eu. Para desprofissionalizar ao máximo a gravação criamos mesmo o que passou a ser chamado o "Coro da Amizade"; amigas e amigos nossos escolhidos a dedo que vinham à gravação e sob a orientação e regência do maestro Guerra Peixe - criador de todos estes notáveis arranjos que aqui estão - mandavam a sua brasa no coro. Para se ter uma idéia do critério adotado, havia uma jovem tabelioa, um broto, bonito e inteligente que é, além do mais, filha do meu amigo Fernando Sabino, Eliana Sabino; a dançarina e estrela de teatro e cinema Betty Faria, cuja voz em solo sensual se ouve dando-me as respostas na primeira faixa, o "Canto de Ossanha"; minha amiga Tereza Drummond estara engolindo o violão; minha mulher Nelita, que embora tenha um fio de voz, compareceu com a sua graça e entusiasmo; o Dr. Cesar Augusto Parga Rodrigues, psiquiatra que toca um bom pianinho em casa, quando arranja uma batina, toca órgão nas Igrejas, figura de grande simpatia, mas a quem depois de um convívio maior no calor humano, alcoólico e atmosférico dos dias de gravação (ela realizou-se na canícula de janeiro), eu não sei se entregaria a minha "cuca" para analisar mormente depois de vê-lo regendo o coro metido no avental médico com que chegara do plantão; e finalmente Otto Gonçalves Filho, o popular Gaúcho, figura "velosiana", como o chamei, que também faz as suas coisinhas no violão e tem na algibeira uns sambas que irão correr mundo.

Por falar em figura velosiana, cumpre-me explicar uma coisa: O samba "Tempo de Amor" está sendo popularmente chamado de "Samba do Veloso". A razão é simples; é que Baden compôs no já famoso Bar Montenegro, também chamado o "Veloso", ali na esquina da Prudente e Moraes e Montenegro, em Copacabana.

O mesmo, aliás, onde há uns cinco anos atrás, Antônio Carlos Jobim e eu vimos passar toda linda e cheia de graça a "Garota de Ipanema".

Rio, fevereiro de 1966.
Vinícius de Moraes. "

domingo, 15 de maio de 2011

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Fernando Santos: A umbanda em ritmo de discoteque

Essa é um garimpo. MESMO.

A música me foi apresentada por um amigo mais velho (inclusive fico em dúvida se deixo o crédito a ele aqui¹), data da década de 70. O link de vídeo que segue é do programa do Carlos Imperial, e foi resgatado pela galera do MofoTV.



Viagem no tempo, né? Bacana. Interessante pensar o como era apresentada a questão, como aparecia na TV. Apesar de ser antes de eu nascer, não faz tanto tempo assim. E no entanto, era um outro Brasil, uma outra umbanda. Vista de forma completamente diferente.

De novo: Um tempo que eu não vivi. Mas do qual eu ouço falar, porque é o da juventude dos meus pais, que eram do candomblé nessa época. Muita coisa que era feita foi perdida, muita coisa foi relida. Porque havia uma perseguição - ainda em 70, vai acreditar - às religiões afro. Não vou me estender muito no assunto porque é algo que eu quero entrevistar pessoas pra saber, e não falar besteira.

O que eu quero ressaltar é que mesmo numa época de tanta perseguição, havia, de alguma forma, manifestações na TV aberta que trouxessem essas questões. Muito foi feito. Há muito a se descobrir. A se gostar?

Enfim, como disse (de forma extremamente sensacionalista, exagerada e cômica) o Imperial: "De norte a sul discute-se: É valido ou não é válido a umbanda em ritmo de discoteque?"

Fica a questão. rssss



Segue o link para download do álbum completo. MUITO garimpo isso:

Tipo de arquivo: RAR
Tamanho: 53,7MB
Disco completo
http://www.4shared.com/file/Lv020bsu/Fernando_Santos_-_Fernando_San.html

Informações do Álbum
Artista: Fernando Santos
Nome: DiscoUmbanda
Ano de lançamento: 1978
Gravadora: CBS (Pelo selo na parte de cima da capa do álbum, mas informação não confirmada)

E onde estará Fernando e a sua DiscoUmbanda? Fernando eu não sei. E olhem que eu procurei, viu. Quem souber, dê a dica. Agora... Sobre a música, a chance é grande que tenha sido um único álbum.

Procurei por um link de venda de CD, mas não achei também.

Motumbá
Helena


¹ - Não sei se ele ficaria mto feliz em ver o nome aqui, então resolvi não colocar. Mas enfim, todos os créditos a ele: Foi quem me deu o caminho pra essa música e esse álbum.

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Apresentação: Proposta

Meu nome é Iara Helena e eu sou artista plástica e futura (quem sabe rss) arte-educadora. E porque vocês querem saber dessa neguinha? Bom, por nada, mas achei por bem falar porque né, era um jeito de começar. :)

E vai, tem lá a sua relevância sim. O fato de estar de alguma forma ligada às artes é o que vai dar origem ao nome do blog e, de alguma forma, a proposta dele. Vamos por partes. (Senta que lá vem história)

Yorubart foi o nome de um dos meus primeiros projetos artísticos desenvolvidos na faculdade. Era para ser uma série de trabalhos, e levou esse nome, porque tinha relação direta com o candomblé e a minha ancestralidade. Mas o tempo passou, eu fiz trabalhos nesse caminho e descobri que não era uma série destinada a ter um fim, e sim a construção da minha linguagem. Sendo assim, achei que dar um nome já não era mais necessário. Ficou o trabalho para um canto, o nome para o outro.

Candomblé, como eu disse, é parte da minha ancestralidade. É mais do que isso: Está gravado, de forma indissociável, em cada traço do meu rosto. Na forma de religiosidade, como campo de saber - pressupondo que são duas coisas diferentes, o que eu sinceramente não acredito (Inclusive, é um ponto interessante que talvez eu venha a bla-bla-blar eventualmente). E é algo que eu tenho constantemente pesquisado, como processo de trabalho, como processo pessoal, como processo formativo em determinados saberes.

No entanto, há uma dificuldade enorme em pesquisar tais assuntos. Há alguns livros, algumas iniciativas, muita música. Mas é muito difícil achar, é uma atividade de garimpo praticamente. Como a minha pesquisa sempre foi muito frutífera na área musical, houve uma vontade de concentrar estes conhecimentos num espaço.

Para isso, pensei num blog e ressucitei o nome Yorubart. Mas dessa vez, Yorubarte. Yorubar TE.

Tenho o blog e o layout faz algum tempo, já tinha essa vontade, e por uma questão ética eu não tinha postado nada. Não sabia como lidar com a questão da propriedade da música. Porque é propriedade. O que me motivou a fazer de fato é que a música já está postada previamente. Tudo o que eu consegui e colocarei no blog foi graças à internet. O blog concentrará, sim, a música, as imagens de obras de arte, ou o que for. Mas devidamente linkado para o seu local de compra, com todas as devidas referências e mais com o propósito de divulgar e concentrar esforços do que realmente de me prevalecer do trabalho e do suor dos outros.

Para tanto, devo afirmar que este espaço NÃO TEM FINS LUCRATIVOS. E que a sua proposta reside em articular um espaço para concentrar, pesquisar e divulgar as iniciativas artísticas que tenham como referência as culturas africanas relacionadas com o candomblé e outras religiões de matizes afro. Com o destaque das comunidades de língua yorubá, mas não somente essas.

E, claro, eventualmente dar um pitaco aqui e ali, que a nega não é de ferro. :)

Ah, sim, e se você tiver um trabalho relacionado com essas questões e quiser que eu divulgue por aqui, ou apresentação próxima, é só me enviar um email: hellmeirelles@hotmail.com .

Espero que seja bom pra todos nós.
Motumbá
Helena